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Por que Viajar para o Mianmar?

Atualizado: 30 de jun.



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Tinha altas expectativas e muitas ressalvas quando pensava se deveria ou não conhecer o Myanmar, em pleno 2024. A situação política do país é complexa e marcada por uma longa história de conflitos internos, ditaduras militares e crises humanitárias. Um golpe militar em 2021 desestabilizou o país completamente e a indústria do turismo, que era bem estruturada, foi por água abaixo, deixando guias, hotéis e todos os prestadores de serviço completamente de mãos vazias.


Desde o golpe, o governo militar tem reprimido de maneira muito forte protestos e qualquer manifestação a favor da democracia. Isso já é um motivo que exclui o Mianmar dos planos de 99,9% dos viajantes que pensam em explorar o Sudeste Asiático. Durante minha viagem, que incluiu Yangon, Bagan e Lago Inle, eu devo ter cruzado com 50 turistas estrangeiros. Os que eu vi em Yangon eram os mesmos que eu vi em Bagan, que também eram os mesmos que eu vi em Inle Lake. Era como se estivéssemos viajando juntos e separados ao mesmo tempo.


Chegamos no país em um voo da Myanmar International Airlines, proveniente de Bangkok. Fomos muito bem recebidos. Era como se todos ali estivessem nos esperando. Havia um olhar de surpresa nos agentes da imigração, que ao mesmo tempo que estavam felizes, tinham um olhar que me dava impressão de que estavam surpresos. 


O guia, com um sorriso de orelha e um amor inexplicável, foi muito sincero. Ele não trabalhava como guia há meses, e agora é professor de inglês em uma embaixada. Nossa primeira conversa foi bem sincera e ele não demorou muito para dizer: não fale com ninguém sobre o governo e sobre a situação política do país. No Mianmar você pode ser preso por falar abertamente sobre sua opinião e os birmaneses não falarão com você sobre isso.


Do aeroporto, fomos direto para a Pagoda de Schwedagon, um dos templos mais lindos do mundo (na minha opinião). Era noite, estava quente, e ao chegar, fomos surpreendidos: não havia nenhum turista no local, e a entrada para estrangeiros, parecia estar vazia há muito tempo. 

No meio do pátio, uma estupa dourada iluminada como ouro brilhava intensamente, envolta em um clima de total silêncio e uma atmosfera de oração. Algumas pessoas meditavam em posição de lótus, voltadas para as paredes, enquanto muitas monjas caminhavam calmamente com suas vestes rosadas.


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O Mianmar abriga uma das maiores populações de monjas, reflexo da forte tradição do budismo Theravāda no país e da ênfase cultural na vida monástica, tanto para homens quanto para mulheres.

E o que eu senti ali? Silêncio. Eu não precisava de mais nada. Foi ali que nossa jornada começou.

 A história colonial de Mianmar começou no século XIX, quando foi anexado pelo Império Britânico após três guerras anglo-birmanesas, tornando-se parte da Índia britânica em 1886. O país sofreu exploração de recursos e mudanças administrativas, mas também enfrentou aumento das tensões étnicas devido à migração incentivada de trabalhadores indianos. Movimentos nacionalistas liderados por figuras como Aung San ganharam força nas décadas seguintes, levando à independência em 1948.

Yangon é o local onde vamos a fundo nessa parte histórica. Na cidade estão vários templos, museus, praças e o trânsito é parcialmente caótico. É muito mais agradável do que poderia esperar: há cafés, restaurantes, lojas de conveniência e sim, é um lugar relativamente seguro.


De Yangon voamos para Bagan, a cidade dos mais de 3000 templos e que entre os séculos 9 e 13 era o Reino de Pagam, e em 2019 passou a ser considerada Patrimônio histórico da UNESCO.  Eu amo templos em ruínas e a cidade é o melhor destino para visitá-los. É um lugar não só histórico, mas tem uma atmosfera espiritual. Com tantos templos budistas, não poderia ser diferente. Cada casa tinha seu templo, e eu imaginei como seria ter um templo em casa. Quem sabe um dia?


O guia que nos recebeu, Zor, é uma das pessoas mais doces e iluminadas que encontramos durante nossa passagem pelo Mianmar. Ele tem muito orgulho de sua profissão, mas não trabalhava como guia há meses. Atualmente, Zor dá aulas de inglês para crianças birmanesas no povoado onde sua família vive. Sua casa se transformou em uma espécie de escola de inglês, um esforço para oferecer às crianças melhores oportunidades no futuro.


Passamos o dia visitando templos em ruínas. Alguns deles eram imponentes e historicamente muito importantes. Os restaurantes locais, na maioria das vezes, são simples, mas oferecem uma comida suave e saborosa. Diferente da Tailândia, os pratos não são nada apimentados.


Um dos momentos mais marcantes da viagem a Bagan é o passeio de balão ao amanhecer. Curiosamente, casais birmaneses costumam fazer sessões de fotos com roupas de noivado na área de partida dos balões, aproveitando-os como cenário.


 No dia seguinte, partimos de carro rumo ao Lago Inle, ou Inle Lake, um dos destinos imperdíveis no Mianmar. Embora fosse possível voar de Bagan a Mandalay — que fica a cerca de uma hora do lago — optamos por uma experiência mais local, viajando por terra.


Fizemos uma parada com pernoite no Monte Popa, um lugar tranquilo e encantador. O monte abriga um templo sagrado no topo, um importante local de peregrinação para os birmaneses. Embora o templo estivesse fechado devido a uma celebração budista, pudemos apreciá-lo de longe, em um ambiente de serenidade e beleza.


No dia seguinte, retomamos o percurso em direção ao Lago Inle, nossa última parada no Mianmar. No caminho, visitamos um monastério budista onde noviços estavam vivenciando sua experiência monástica, proporcionando um vislumbre único da espiritualidade local.

O Lago Inle está localizado no coração do estado de Shan, o maior estado do Mianmar, situado no leste do país. Essa região é conhecida por sua paisagem montanhosa, sua diversidade cultural e sua importância histórica. É uma das áreas mais fascinantes do Mianmar, tanto em termos de geografia quanto de população.


A visita ao Lago Inle foi uma experiência fantástica que encerrou nossa jornada de maneira memorável. Aqui, a paisagem é única, e o ritmo de vida é profundamente conectado ao lago. Comunidades vivem há séculos sobre as águas, em cidades flutuantes, onde tudo gira em torno do lago. Uma das características mais interessantes são as plantações flutuantes, usadas para cultivar tomates e hortaliças. A vida no Lago Inle é um testemunho da harmonia entre os habitantes e a natureza ao redor.

A jornada ao Mianmar foi uma experiência completa: Cidade Grande, Cidade Histórica e Natureza, cada uma oferecendo perspectivas únicas. Diferente da maioria dos viajantes, que passam por Mandalay, decidimos retornar a Yangon para seguir viagem rumo a Kuala Lumpur, na Malásia.

Dicas e Reflexões sobre o Mianmar:

  • Infraestrutura Limitada: Durante a viagem, enfrentamos cortes de energia elétrica regulares a cada seis horas. Mesmo hotéis luxuosos nem sempre têm geradores, ou desligam-nos à noite.

  • Acesso Digital Restrito: Redes sociais são bloqueadas, e o WhatsApp funciona de forma limitada. No último dia, aprendi sobre VPNs, mas essa desconexão acabou sendo positiva, permitindo que eu estivesse presente de corpo, alma e coração.



 
 
 

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